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O acendedor de lampiões

Mauritânia: frente ao flagelo da violação, será que as mulheres podem tornar-se atrizes de sua segurança? O exemplo de RIM Self Defense

2 Septembre 2020 , Rédigé par Jorge Brites Publié dans #África, #Sociedade, #Género

Em 21 de Março de 2018, há mais de dois anos, o tribunal penal de Aioun, capital da região (wilaya) de Hodh El Gharby (Leste da Mauritânia), condenou a uma pena de 10 anos de prisão firma um pai, que violou seis das suas filhas, com idade entre 12 e 26 anos – só a mais jovem escapou. O homem já estava detido desde nove meses, depois que as filhas e a mãe delas (divorciada) apresentaram queixa. O próprio fato, como muitos que fazem frequentemente a atualidade, mas que são, no melhor dos casos, abordados como anedóticos, é indicativo de um clima de insegurança que envolve muitas adolescentes e mulheres mauritanas. Essa insegurança, ela existe no lar como no espaço público, e tem sua fonte numa sociedade patriarcal complexa e tradicional, recentemente urbanizada e onde a questão das violências sexuais não deixa de ser objeto de um certo tabu – apesar de o trabalho de umas ativistas feministas.

Diante desse fenômeno, uma jovem mulher, associada a mestres de artes marciais (homens) e seus alunas (mulheres), comprometeu-se por quase três anos a criar aulas de autodefesa para dar ferramentas a jovens mulheres de Nouakchott contra as agressões. Olhar sobre essa iniciativa inovadora que faz das mulheres atrizes de sua segurança.

« Não acho que os homens sejam feras e que as mulheres deveriam armar-se. Mas há no entanto a ideia que as mulheres não podem contar com eles, e devem portanto tornar-se atrizes de sua segurança ». Essas palavras são de Dioully Oumar Diallo, iniciadora do projeto RIM Self Defense. Resumem bem em que medida a problemática das violências sexuais limita as mulheres na Mauritânia. Embora elas são comuns, as agressões sobre as mulheres e as adolescentes ainda permanecem um tabu nesse grande país du Sahel. Uns casos de violações (ou estupros, em português do Brasil) fizeram a atualidade esses últimos anos (em particular os de Penda Sogué e de Kadji Touré em 2013), mas principalmente porque foram acompanhados de um assassinato e de atos de tortura. Sem isso, a maioria das violações ficam em grande parte caladas para evitar o desonra à vítima. As associações trabalhando no setor concordam pelo menos com o constato: no dia a dia, o fenômeno constitui um verdadeiro desafio de segurança para as mulheres.

Para lutar contra esse flagelo, são raras as iniciativas que vão além dos discursos à ocasião de dias comemorativos como o 8 de Março. Umas associações, como a Associação das Mulheres Chefes de Famílias (Association des Femmes Cheffes de Familles, AFCF) ou a Associação Mauritana para a Saúde da Mãe e da Criança (Association Mauritanienne pour la Santé de la Mère et de l’Enfant, AMSME), dispõem certamente de locais para acolher de alguma forma as vítimas de violências. Mas muito poucas ações parecem ser realizados para prevenir, a montante, as violências. As mulheres são, na maioria das vezes, consideradas como seres fracos, como « pequenas irmãs » que devem ser protegidas.

Por quase três anos no entanto, uma iniciativa cresceu para responder concretamente a esse problema, contra o pensamento dominante. O objetivo: montar aulas de autodefesa nos bairros da capital. Um projeto ainda mais inovador na Mauritânia que torna as mulheres atrizes de sua própria segurança, e que ele lhes permite abordar os assuntos relativos ao seu desenvolvimento físico e moral.

Dioully Oumar Diallo, iniciadora de RIM Self Defense.

Da aplicação TaxiSecure à abertura de salas de autodefesa: crónica de uma abordagem inovadora sobre a luta contra as violências sexuais

Graduada em Master Rede-Telecom em Dakar, Dioully Oumar Diallo pilotou o projeto RIM Self Defense desde os seus inícios, e coordena hoje suas atividades. Seu envolvimento na luta contra as agressões, em particular no espaço público e nos transportes, não é novo. Ela nos conta: « Houve um primeiro projeto inicialmente, que chamava-se TaxiSecure, que começou no final de 2014. Muitas pessoas em torno de mim ou eu próprio tínhamos vivido intimidações, ou até agressões a bordo dos táxis... Era uma espécie de tendência que atingiu o pico em 2013 e 2014. Houve infelizmente o caso de uma das vítimas famosas, Penda Sogué, que foi sequestrada a bordo de um táxi, violada e depois matada […]. Ainda não havia "TaxiSecure", não havia esse nome. Era só uma ideia: como evitar as agressões a bordo dos táxis? Havia essa obsessão dos pais, uma vez que a tua irmã ou uma outra mulher sai da casa, estás ai ao telefone: chegaste bem? Pegaste o táxi?" Essa obsessão, muitas pessoas a vivam. Depois veio o lançamento do MauriApp Challenge [uma competição de projetos de aplicações móveis, lançada em 2014 à iniciativa da associação mauritana Hadina RIMTIC]. Era a ocasião de concretizar alguma coisa, e ai é que nasceu TaxiSecure, e que com um colega desenvolvemos a aplicação ».

Logo da aplicação TaxiSecure.

TaxiSecure consiste em uma aplicação móvel, carregável gratuitamente, e que permite verificar a identidade e a regularidade dos táxis, com base de suas placas de matrícula. Além disso, a aplicação deve permitir, em caso de perigo ou de desconfiança sobre um taxista, enviar um SMS de alerta aos seus próximos, e em seguida de geolocalizar o telefone em caso de rapto ou de agressão. Mas, embora tenha ficado em terceiro lugar do concurso MauriApp Challenge, o projeto enfrentou rapidamente obstáculos, em primeiro lugar o recuso das autoridades públicas de colaborar, partilhando os dados sobre os táxis registrados. Outras limitas aparecerem, nos explica Dioully: « Depois do lançamento da aplicação e sua instalação online no Google Play, percebemos que algo estava faltando, que não ancorava-se em relação a tudo o que acontecia, as violações, as agressões... Embora a aplicação é útil, ainda é limitada. Primeiro porque toda a gente não tem um smartphone. Mesmo se ouvimos muitas vezes que a Mauritânia tem uma taxa de penetração do telefone móvel de 125%, não é toda a gente que tem um smartphone. E mesmo quand temos um smartphone, não é toda a gente que é conectado a Internet ou que terá crédito no momento da agressão... Há tantas coisas que limitam a aplicação TaxiSecure ».

Logo da iniciativa RIM Self Defense.

E continuando: « Portanto ai é que chegou a ideia: por que não equipar as próprias mulheres, à desenvolver as capacidades para poder se defender em caso de agressão? » Mas uma primeira observação impôs-se: não existia formações em técnicas de autodefesa em Nouakchott. Existia no entanto salas de artes marciais e de desportos de combate: karaté, judo, taekwondo, viet vo dao, kung fu, ju-jitsu, boxe, etc. « Com um amigo, visitamos salas e levamos os contatos de mestres em artes marciais […]. Acabando com esses diferentes contatos, foi previsto estabelecer um programa comum de self-défense, que deve vir do karaté, do ju-jitsu, do kung fu e do judo ». Umas dúzias de mestres foram assim reunidos e convidados a construir, sobre a base das técnicas de autodefesa das suas diferentes disciplinas, o conteúdo de um programa completo de self-défense. Durante quase dois anos, entre Junho de 2016 e Julho de 2018, os mestres reuniram-se pelo menos uma vez por semana, na Casa dos Jovens de Nouakchott, e elaboraram um programa.

Primeira reunião de mestres em artes marciais identificados, em 18 de Junho de 2016 (Nouakchott).

Primeira reunião de mestres em artes marciais identificados, em 18 de Junho de 2016 (Nouakchott).

Ao mesmo tempo, foi feito um trabalho para identificar jovens mulheres com já um certo nível em artes marciais, e podendo elas próprias tornar-se, ao meio prazo, instrutoras. « A idéia era que as técnicas que compõem esse programa fossem ensinadas a mulheres que têm elas mesmas bases em artes marciais e que são, na maior parte, das mesmas escolas e salas que os mestres. Agora, elas foram formadas numa duração de quase dois anos, e tornaram-se elas mesmas formadores capazes de treinar outras meninas em diferentes municípios de Nouakchott ».

Farmata Wagne, formadora em Dar Naim (Nouakchott).

Entre essas formadores, temos o exemplo de Fama, no bairro de Zatar, em Dar Naïm, nos arredores de Nouakchott. Aluno de kung fu desde mais três anos, ela envolve-se no projeto desde os seus inícios, e dispensa agora (em conjunto com uma outra formadora) suas aulas com cerca de quinze raparigas, sob a supervisão de três mestres de kung fu. Ela testemunha: « Eu fazia os artes marciais, o kung fu, e juntei-me a esse projeto de self-défense para as mulheres […] Antes, eu não via os benefícios. Mas agora, eu os vejo: para mim, para os jovens mulheres, e para minha casa – pois as aulas têm lugar na minha casa. O outro dia, uma das minhas alunas, 16 anos de idade, foi à escola. Ela segue a escola no bairro de Tounsouwelim, que não é perto. No caminho, um bandido tentou atacá-la, apanha-lá. Ela o mordeu, deu uma tapa, e o homem a deixou. Ela não usou as técnicas mesmas, mas reagiu. Ela mesma diz que as aulas a ajudaram a reagir. Deu-lhe coragem ».

A necessidade de quebrar muitos prejuízos e tabus a cerca da questão das violências

A realidade do assédio e das violências sexuais na Mauritânia, incluído em lugares e transportes públicos, anda de mão dada com uma condição da mulher marcada pelas proibições e pressões sociais resultantes do peso das tradições, que constituem um freio ao desenvolvimento individual e coletivo: casamentos precoces, restrições morais e vestuárias, visão negativa do desporte e dos lazeres femininas, persistência das práticas da excisão e da alimentação forçada (em função das comunidades), etc. Enfim, um sistema de dominação da mulher que multiplica os mecanismos de controle do seu corpo e da sua mente, em todas as idades da vida (Entre submissão e manipulação social: qual é a condição das mulheres na Mauritânia?).

Ao mesmo tempo, convém sublinhar que o sistema judiciário é insuficientemente protetor, e que aliás, a criminalização da violação é objeto de incerteza jurídica no Código penal. Os juízes apropriam-se muitas vezes os artigos sobre o adultério (zina) que designam também a vítima como culpada (A questão da violação na Mauritânia: o tabu pode ser quebrado?). No entanto, deve-se tomar consciência de que a violação constitui um ato com um nível de violência incrível que facilmente domina a vida das vítimas – além disso, representa uma ameaça perpétua para todas as mulheres. Pegar simplesmente o táxi à noite já torna-se arriscado, em particular em direção dos bairros periféricos, onde a delinqüência é maior, onde a iluminação pública às vezes é inexistente, etc.

Aula de autodefesa, em Arafat (Nouakchott).

A abordagem da iniciativa RIM Self Defense impõe de ultrapassar um certo número de preconceitos sobre as mulheres, sobre as violências sexuais e sobre os desafios de segurança. Primeiro, ela lembra que, certamente, a violação constitui uma violência terrível, como também um desafio agudo de segurança para todas as mulheres; mas lembra também que não é uma fatalidade. Este é um problema de sociedade contra o qual é preciso lutar. Segundo, ela sublinha que as mulheres não são objetos de prazer, mas o seu corpo pertencem a elas. Que elas são, que nem os homens, seres humanos de pleno direito, e que como tais, elas têm direito ao respeito e à segurança, que é uma condição essencial para a felicidade e o desenvolvimento pessoal. « Desde o nascimento, nos diz Dioully, a mulher é modelada, destinada a satisfazer, a agradar, a alimentar a fantasia dos homens, através a alimentação forçada, a massagem, a sutileza nos Pulaars por exemplo. […] O projeto RIM Self Defense joga com isso porque as mulheres já devem saber que o seu corpo pertence a elas. Elas não devem ser destinadas a ser um produto de satisfação ou de prazer. […] A primeira coisa que faz esse projeto, é dar consciência às raparigas que participam que elas têm um direito sobre o seu corpo, que não é destinado para os outros. Elas têm o direito de avisar que elas não são um doce, " quem passa pode tocarão, "quem passa pode fazer observações inapropriadas" ».

A idéia da aula de autodefesa construiu-se de forma coerente, para responder da maneira mais concreta possível à problemática das violências sexuais, colocando as mulheres em frente. Essa iniciativa visa uma vez ao mesmo tempo a criar lugares de formação em técnicas de autodefesa, em cada bairro de Nouakchott, e que constituem também espaços de trocas, com o objetivo de quebrar os tabus e de estabelecer laços fortes de solidariedade entre mulheres. Dioully Oumar Diallo nos explica: « Nessas salas, não há só formações técnicas de self-défense. Essas salas são espaços de discussão entre raparigas, que trocam sobre temáticas sobre as quais elas não podem trocar em outro lugar, por exemplo. Percebemos um salto, uma grande progressão. Certas viram as resultados escolares melhorar, outras dizem que elas têm mais facilidades a exprimir-se. Porque essas salas não representam só o lugar de uma atividade física, mas um espaço onde se encontrar, onde comunicar, onde trocar livremente, sem nenhum tabu… Enfim, um espaço para elas. Pela primeira vez, elas sabem encontrar-se livremente, em um espaço que pertence a elas, e abordar assuntos que são realmente importantes para eles. […] Elas são ai entre raparigas, vestem-se como elas querem, discutem sem tabu, sem ter medo de ouvir "Não tens o direito de dizer isso, há um pai que te escute" ».

Aula de autodefesa, bairro Socogim PS (Nouakchott).

Aulas de autodefesa têm um objetivo de curto prazo, ou seja, responder à urgência de segurança ligada às agressões. Mas os espaços de trocas e os laços de solidariedade criados nas salas têm um impacto de longo prazo. As pressões sociais ou familiares limitam muitas vezes o desenvolvimento físico e psicológico, individual e coletivo das mulheres mauritanas (prática de atividades físicas ou intelectuais, conhecimento do seu próprio corpo e da sua própria sexualidade, etc.). As sessões de formação são ocasião de transmitir mensagens sobre um certo número de assuntos, e de oferecer aos participantes um espaço de expressão e de trocas. A ideia é também que os treinamentos em grupo suscitam laços de solidariedade e uma consciência coletiva feminina, contribuindo em mesmo tempo para uma reapropriação pelas raparigas do seu próprio corpo. As formações em técnicas de autodefesa não constituem um fim em si mesmo. Elas inscrevem-se numa abordagem mais larga da luta contra as violências e em favor da emancipação progressiva das mulheres na sociedade mauritana.

O desafio difícil da perenização

Todo esse trabalho foi possível graças ao envolvimento voluntário dos formadores que ensinam as técnicas, e dos mestres que as treinam. O apoio financeiro do Serviço de Cooperação e de Ação Cultural (SCAC) da Embaixada de França, dois anos depois do lançamento da iniciativa, permitiu abrir e assumir para uma duração de seis meses as despesas de sete diferentes salas. Hoje em dia, cinco entre elas são operacionais: a primeira ao nível do bairro de Socogim PS, no município do Ksar; uma segunda no município de Arafat, perto da rotunda Msid-Nour; uma terceira no município de Toujounine, perto da estrada da Esperança; uma quarta no município de Dar Naïm, perto do hospital Cheikh Zayed; e uma quinta à Nova Casa dos Jovens, atrás da Mesquita marroquina. Nas quatro primeiros, mais de quinze jovens mulheres treinam, gratuitamente, vários diras por semana. A frequentação é regular, e encorajadora.

Mas as dificuldades também estão florescendo: meios faltam, tanto para assegurar a continuidade da iniciativa desde o fim do financiamento da cooperação francesa, como para permitir de abrir novas salas – incluído em bairros onde novas formadores e mestres foram identificados. Uma tal iniciativa tem a vantagem de ser muito concreta e eficaz, mas ela pede inevitavelmente um apoio e um esforço contínuos para o aluguel ou a provisão de salas e de um mínimo de material. Mas a demanda já é às vezes forte demais para as capacidades das salas em funcionamento. Hoje em dia, apesar dos obstáculos, a iniciativa persiste graças às cotizações, mas « se não encontrarmos uma outra solução, nos explica Dioully, essas salas riscam de ser fechadas, e as raparigas que estão connosco desde o mês de Junho [de 2018] vão perder esse espaço que lhes permitam de ganhar ferramentas contra as agressões, mas também de conversar, trocar, ser elas mesmas. […] Portanto seria realmente um dano ».

Aula de autodefesa, no bairro Zatar em Dar Naim.

Além disso, a temática das violências sexuais é complexa, de tal maneira que uma iniciativa como RIM Self Defense não é sem risco e sem restrição. A comunicação, em particular, deve ser objeto de um trabalho importante (para atrair as raparigas motivadas e em número) mas sobretudo sutil, porque há receios, seja contra o princípio de uma iniciativa que trata da questão das violências sexuais, seja contre o princípio de atividades físicas e desportivas para as raparigas. Dioully nos conta ainda: « Certas raparigas dizem que uma mulher não deve fazer desporte porque ela terá o corpo duro, e que não é o gosto dos homens. Eu próprio, tenho também mulheres que alertaram-me porque a atividade física poderia provocar a perda de virgindade das raparigas. Há muitos prejuízos ».

A maneira de abordar o assunto e o vocabulário usado devem ser construídos de tal maneira que os pais entendam a urgência de segurança em relação às violências sexuais, e que não se trata de ensinar às raparigas a lutar mas simplesmente de conselhos para evitar as situações perigosas e de algumas técnicas para escapar de situações violentas. A esse respeito, as próprias formadores, obviamente, têm um papel, pois são as mais capazes de responder às primeiras perguntas das raparigas e dos pais. « Não estamos formando combatentes, repete Dioully. Essas raparigas não tornarão-se uns Robocop ou uns Rambo, a ideia é apenas que elas podem escapar de uma situação de agressão, não que elas procurem um confronto físico. A ideia é desenvolver suas capacidades, o seu sexto sentido, sabendo identificar as situações perigosas. Essas raparigas têm o direito de defender-se frente a uma pessoa que quer machucá-las ».

Ensaio na antiga Casa dos Jovens, em Nouakchott.

Diversos riscos ou obstáculos são ligados a questões de sociedade, como também aos preconceitos relativos à condição feminina ou às violências sexuais. Por exemplo, a ideia que as mulheres vestindo certas roupas ou que saiam a certas horas « provocariam » suas agressões. Os artesãos do projeto devem portanto redobrar seus esforços para: estarem atentos e disponíveis para as raparigas, os pais; e ouvrir críticas sobre uma tal iniciativa. A melhor resposta sendo a demonstração pela prova. Mas ai também, mudanças ocorrem: « Há uma conscientização, nos descreve Dioully. Na sala do município de Toujounine, para todas as raparigas, são os seus pais que as levaram. Esses espaços, as raparigas os frequentem porque a sua família aceita. Mães vieram nas salas. Isso significa que os pais entenderem o perigo, e começaram a incentivar as suas filhas a aprender a se defender ».

Para tranquilizar, também é essencial que as jovens mulheres seguem as suas aulas em boas condições. As salas de treinamento, em Nouakchott, são hoje sub-equipadas. O aluguel de salas e dos seus equipamentos na devida forma constituem portanto um fator chave de sucesso.

Além disso, convém insistir: a progressão da iniciativa, seu sucesso, não teria sido possível sem o investimento dos mestres em artes marciais e desportes de combate desde quase três anos, a montante das aulas, para construir o programa de formações e projetar as técnicas ensinadas. Esse modo participativo teve por efeito de os motivar a fazer do projeto um sucesso. A iniciativa é voluntária, mas o material e o equipamento comprados beneficiam também às aulas em artes marciais dos mestres (partilha do tatami fora das horas de aula de autodefesa por exemplo).

Elhacen Kanté, co-artesão do programa de autodefesa.

A ideia é que cada um sai beneficiante: as jovens mulheres através as aulas de autodefesa, e os mestres nas suas disciplina. E o que é melhor para isso do que agrupar os meios? Um deles, Elhassan Kanté, agora encarregado do monitoramento da sala localizada no bairro Socogim PS e inicialmente mestre em karaté, nos esclarece sobre a metodologia: « Nos baseamos sobre as diferentes disciplinas, como o karaté, o kung fu, etc., para melhor adaptar as técnicas ao nível das mulheres que chegam nas salas. […] Concebimos um conjunto de técnicas muito simples a fazer, e as implementamos, confiando várias partes a raparigas. Fazendo simulações também. […] Do lado dos mestres, foi complicado porque cada um queria propor técnicas um pouco diffíceis. Foi necessário as adaptar para as converter em técnicas simples, para que as raparigas permanecem motivadas a vir treinar. Pois muitas mulheres acham que, por fazer uma disciplina que parece um pouco com o karaté, vão endurecer o corpo. E isso, elas não gostam desse ideia. Era portanto preciso ficar em técnicas simples ». Sobre as dificuldades que o projeto pode ter encontrado, Kanté logo nos responde: « O tempo, sobretudo! Duas horas de tempo numa semana, não é suficiente para o self-défense. Porque isso pede uma preparação física primeiro, para raparigas que para algumas delas não tinham nível, e uma preparação psicológica. Há muitas coisas para fazer! O self-défense, isso pede saber correr um mínimo, mover-se, bater…  E é preciso aprender a enfrentar situações arriscadas, fazer simulações. Colocamos as raparigas em prática. […] Certas raparigas têm um nível, mas outras estão começando do zero. Por isso, trabalhamos mais sobre as situações arriscadas após-choque. No final do projeto, fizemos muitos exercícios de simulação ». Ele acrescenta ainda: « Eu mesmo fiz várias descobertas [no âmbito de RIM Self defense]: pude conhecer certas pessoas como as raparigas que estão ai, e partilhar um espaço de interesses com elas e com os outros mestres ».

Mauritânia: frente ao flagelo da violação, será que as mulheres podem tornar-se atrizes de sua segurança? O exemplo de RIM Self Defense
Demonstração pública de self-défense, na antiga Casa dos Jovens, em Nouakchott, em Julho de 2018. (Crédito fotografia © Dioully Oumar Diallo)

Demonstração pública de self-défense, na antiga Casa dos Jovens, em Nouakchott, em Julho de 2018. (Crédito fotografia © Dioully Oumar Diallo)

« Eu não aceito mais as coisas que não posso mudar. Eu mudo as coisas que não posso aceitar. » Essa frase de Angela Davis, ativista norte-americana do afro-feminismo nascida em 1944, resume bem o espírito que anima a iniciativa de Dioully e das outras ativistas sinceramente convencidas da necessidade de lutar contra as violências, e para isso de dar ferramentas as jovens mulheres. A luta continua, mas não pode ser feita só de discursos, de fotografias de grupo e de conferências simbólicas. Avança graças ao trabalho de terreno, graças às ações acessíveis às mulheres mais expostas à violência, cujos direitos são geralmente violadas na indiferença geral, numa forma de tolerância à pobreza e à submissão. Graças a ações concretas direcionadas a essas mulheres vindas de bairros invisíveis durante as cimeiras internacionais. A essas mulheres muitas vezes ausentes da atualidade política, dos debates sobre o futuro do país, das preocupações das classes dirigentes. A essas mulheres que desejam mudar coisas que elas não podem aceitar, e tornar-se assim mestras do seu destino.

Para mais informações, é ir na página Facebook de Taxi Secure - RIM Self Defense ou na página YouTube « Taxi Secure – RIM Self Defense ».

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